terça-feira, 18 de novembro de 2008

Segunda-feira

Que preguiça, pensava.
Era segunda-feira e meu estado de espírito não seria diferente.

O dia começara cedo. Abri os olhos com uma vontade absurda de fechá-los, mas a sede de enfrentar tudo que não está acabado me fez abri-los. Meus pés pareciam não obedecer minhas necessidades. Levantei de um modo que só forças divinas explicariam, segui em direção ao banheiro com os olhos entreabertos. Sufoco.

A água quente que havia percorrido todos os canos de meu prédio até chegar ao chuveiro caia nos meus ombros e ao correr meu corpo tirava toda a energia acumulada de tantas noites mal dormidas. Olhava para cima e a luz advinda das lâmpadas incandescentes pareciam querer me despertar. Foi em vão. Ainda enrolada na toalha deitei em minha cama esperando encontrar lá um amparo para minha sonolência. Dez minutos passaram e então fui interrompida pelo cortante e ensurdecedor som de meu despertador.

A cada peça de roupa que colocova, ao mesmo tempo que crescia minha dúvida se o dia seria de verão ou de inverno, tentava me conformar com o fato de estar acordada aquele horário. A árdua tarefa de me trocar foi seguida do momento mais sagrado de meu dia: o café da manhã.

O delicioso cheiro de bom dia me chamava na cozinha. Aquele saboroso líquido escuro parecia me fitar desde o momento em que coloquei os pés no gelado piso de granito da cozinha. Nosso encontro não poderia ter sido melhor. Costumo dizer que minha relação com o café é, talvez, a mais perfeita e incondicional que tenho em minha vida.

Após diversos goles de café, parecia que o dia teria um pouco mais de sentido. Mas segunda-feira nunca tem sentido.

Segui até minha prisão diária e chegando lá, deparei-me com os mesmo rostos. Enfilerados na frente daquele portão bege que não nos protege de nada, além de nossa própria liberdade, todos estavam do modo que deveriam estar.

O dia não teve novidades. Como de costume, entrei por aquelas portas de vidro com meu documento de indificação na mão e subi as tortuosas e cansativas escadas que me levariam ao inóspito ambiente que é minha sala de aula, ou melhor, minha cela.

Sentei-me naquelas pretas cadeiras de couro e não sentia a mínima vontade de olhar para a cara do homem que se assemelha a um urso polar. Sabia que deveria abrir meu material, mas aquela preguiça não deixava. O homem com cara de urso polar chamou minha atenção. Qual é o domínio da função, me perguntou. Na minha cabeça também me perguntava se era importante saber o domínio da função, digo, não sei nem o domínio de minha vida.

Contrapondo o triste som de meu despertador, o ruído do sinal que anunciava o fim do período das aulas soava com uma sinfonia beethoveniana em D menor.

Aquela segunda-feira acabou com o sentimento de destruição das segundas-feiras. Apesar de que se esta não existisse, odiaria a terça-feira do mesmo modo.

Foi uma dia estranho, e se definida por uma amiga minha com alargadores brilhantes, foi um dia X. Percorreu aproximadas vinte e quatro horas apenas para registrar um número no calendário. Assim nasceu, assim morreu. X.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Chorou.

Parece que nem foi grande coisa, nem grande conquista, nem grande sorriso. Veio, passou, foi. E agora, cadê?
Que sentimento é esse que deveria ser partilhado? Ser mútuo? Até quanto isso importa?

Faço um lágrima cair. Faço outra pessoa chorar, e mesmo assim , não tenho vontade de voltar atrás ou me desculpar. Chego a um ponto que não ligo, quando tudo me atravessa.

A felicidade não deveria ser explicada ou justificada. Assim como nenhum sentimento. Quando eles são verdadeiros, não precisam de tradução, eles falam por si só. São transparentes, simples e intensos. E fim.

Aquela lágrima caiu e até hoje não sei o que significou. Medo, tristeza ou raiva. Não sei. Garanto que saber a razão pela qual aquela lágrima escorreu, seria o fim de minha angústia, ou o começo de minha depressão.

Cumpri o meu dever momentâneo. Bati o cartão. Fechei o expediente com sucesso. Porém ganhei apenas o vale refeição e o vale transporte para poder voltar a situação que me encontrava. Algo falta. Sim, existe um abismo entre o vale transporte e a promoção à gerência. E mesmo assim, não será o suficiente.

Apesar dos pesares, me sinto completa dentro de minha "incompletez". Sigo meus limites que nem sei quais são. É estranho, porém, olhar para frente e se deparar com as costas de seus deuses. Aqueles próprios deuses. Eles estão virados para outra súdita, que no momento, parece merecer mais suas atenções que eu.

Enfim, é o fim. Fim de uma fase que foi realizada com louvor e terminou meio sem eira nem beira. Mapeada, datada, acabada. Ponto.
Enfim, chegou o fim.